segunda-feira, 11 de junho de 2012

A japona de lama !

[PLURAL] 

A japona de lama

FRANÇOIS SILVESTRE
Escritor

Que a Ditadura Militar foi um parque de violência indescritível, com uma folha de terror insepulta, todo mundo sabe.
O que poucos sabem é que também foi um estuário de corrupção. Desde a morte do torturador-chefe Fleury, as versões sobre arquivo e grana se misturam.
Para uns, Fleury sabia demais sobre os porões da política, da guerra suja e intestina do regime militar. Depois apareceram evidências de sujeira onde se misturavam sangue e dinheiro.  “O delegado Fleury tornara-se inconveniente; exibindo riqueza além das suas posses legais”. Disse um ex-superior do “delegado”.
Agora, vem à tona a evidência desse núcleo corrupto da repressão. Fonte insuspeita, o Ex-Governador de São Paulo, Paulo Egídio Martins, quando das mortes de Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, nas dependências do Segundo Exército.
A versão de suicídio, que nunca convenceu ninguém, cai por terra na palavra de um acólito do regime. Até Tancredo Neves, para chegar à Presidência, acendeu um vela a Deus e duas ao Diabo. Fez um acordo “secreto” com o general Leônidas Pires Gonçalves, a quem entregou o Exército, para não processar nem julgar “militares” acusados de tortura.
Diz Paulo Egídio: “Eles foram assassinados. E o “suicídio” do Herzog foi uma maquiagem mal feita”. Deixa claro ainda que        Geisel e Golbery souberam da verdade. Geisel demitiu o comandante, General Ednardo D’Ávila. E silenciou.
Após o acerto, anos depois, de Tancredo com Leônidas, a “Nova República” encampou a versão mentirosa do suicídio. A raposice escondendo a História.
Você deve estar se perguntando onde está a corrupção, pois só falei de violência. É agora que ela entra, como fogo em algodão.
Sempre houve boatos de verbas não contabilizadas para a repressão. Vindas do erário e de colaborações empresariais. Podiam ser gastas sem registro ou rastro. Dinheiro franco e invisível. A Ditadura prescreveu; a História, não.
O Ex-Governador declara que “havia uma verba secreta para o Governador e outra para o Secretário de Segurança, que era o Erasmo Dias”.  E confirma que sobre o uso dessa grana não se prestavam contas.
Agora vem o mais grave. Erasmo Dias procura o Governador e diz que o general chefe do Estado Maior do Segundo Exército, subordinado direto do comandante, estava sendo chantageado por um sargento e um cabo, que pediam dinheiro pelo silêncio sobre a morte de Herzog.
Erasmo Dias pede autorização de Paulo Egídio para usar a verba. O Governador teria respondido: “Você tem sua verba secreta, faça o que bem entender. Não usarei a minha”. O ex-governador, nomeado por Geisel, diz não saber o resultado da chantagem.
A corrupção não é “privilégio” da Democracia. A diferença é que na liberdade ela sofre alcance. Na ditadura, tudo se faz e nada se apura. Té mais.

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