FRANÇOIS SILVESTRE
Escritor
▶ fs.alencar@uol.com.br
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Não sei se foi o fastio da Ditadura,
felizmente morta e quase sepultada; não sei se foi a raposice de
Tancredo, articulando contra as Diretas, para ganhar nas Indiretas; não
sei se foi Sarney, de mentiras e congelamentos, com fiscais trouxas; não
sei se foi Collor, o sucessor farsante de Jânio. Discípulo que virou
mestre.
Não sei a causa das causas. Só sei que
não foi essa a Democracia dos sonhos de estudante, que despossuía
estômago e intestino, inúteis ante a bóia escassa da Casa do Estudante. O
alimento era a luta. Hoje estufo a pança!
Não sei se foi o partido nascido de São
Bernardo, com as manifestações na Praça Craveiro Lopes, Bela Vista de
Sampa, dando notícias à Capital de que algo de novo nascera naqueles
tempos.
Não sei se foi esse partido, indo pelas
mãos do seu criador à casa de Maluf, cuspir na esperança do limpo e
declarar o que não aceitávamos saber; que são todos iguais. Ou melhor,
que somos todos iguais.
Todos nós, sem exceção, temos culpa no
cartório da História. Tá todo mundo falando em ficha limpa para
candidatos. Tudo papo furado. As fichas são as mesmas, o teatro também.
Ninguém fala em ficha limpa do eleitor, o mais sujo de todos. Avaliador
de todos os eleitos. Patrono da hipocrisia. Se o eleitor fosse limpo o
que dele saísse limpo seria.
Cloaca produz fedor, jasmim exala perfume. São limpas todas as fichas dos julgadores do fichário?
Agora, a hipoética (de ética escassa e
não poética) democrática das eleições. A legislação punitiva de abusos é
uma baita mentira. Os conchavos são os mesmos e o custo econômico não
difere nada dos tempos de Theodorico Bezerra, que certa vez respondeu à
indagação de quanto gastaria numa campanha. “Gasto o limite do meu
crédito”. O que mudou? Theodorico era sincero.
Aqui em Martins a campanha tá pegando
fogo. Eu tô só de longe. Voto como sempre votei, contra a dominação
quase centenária de um mesmo grupo herdeiro de Jocelyn Villar; que
depois dele, nunca edificou sequer uma latada para armar uma rede. Culpa
de quem? Do eleitor. O grupo referido tá no seu papel, de dominar e
usufruir. A Serra e a Cidade que se danem.
Gente adoravelmente ruim. Enquanto o
sertão fica cor de chumbo, de seca e fome pros animais, as bibocas da
região fervilham de bandeiras coloridas, mostrando em pesquisas visuais
quem vai vencer. Quem vai perder todo mundo sabe; o estúpido e venal
eleitor.
Esperar mudança, nessa farra de
hipocrisia, é a mesma sina de Beckett esperando Godot. Ou o otimismo
remunerado. Ou quem se fantasia de nuvem para interromper o sol.
Quando morre alguém, os que vão chegando
ao velório perguntam baixinho: “Era bicudo ou cururu”? Apelidos de cada
lado do embate. Dependendo da resposta, o lacrimejante vai chorar ou
comemorar no boteco mais próximo. Té mais.
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