NO NOVO JORNAL

Sempre tratei com distância fria a literatura de autoajuda. Nunca li
qualquer livro desses. Portanto, se essa crônica não obedecer ao fi gurino
da espécie deve-se ao desconhecimento do gênero. Trato a autoajuda, na
literatura, do mesmo modo que lido com a obra de Paulo Coelho. Respeito,
mas nunca li. Talvez até seja por inveja, pois não sou lido nem até Guarabira.
Enquanto Paulo Coelho e a autoajuda singram por todas as línguas.

De línguas, só entendo das de Martins que falam da vida alheia. Inclusive
da minha. Vez ou outra desconto e disfarçadamente pergunto a
um passante sobre a desventura de algum desafeto. Tudo muito sutil e
disfarçadamente, que também sou cretino e ninguém é de ferro.

Sou conhecido em várias cidades do mundo. Todas elas no Rio Grande
do Norte.

Nunca diga o que pensa na frente de quem só pensa no que diz. Se já
falou muito, na mocidade, continue falando na velhice para não humilhar
sua juventude. É melhor confessar a ignorância do que passar o ridículo
de falsa sabedoria. Não saber é muito mais sábio do que saber falsamente.

Não confesse seu medo, mesmo se borrando de pavor. O inimigo não
merece esse gosto.

Não aceite provocação nem passe recibo a desaforos. Mate de raiva o
provocador. Mas não deixe sem resposta a agressão direta. Coice por coice.
Venha de onde vier. Quanto maior o inimigo mais justifi cada a luta.
Desconfi e da humildade ostensiva e decantada. Ela vem sob o manto
da hipocrisia. Essa história de se dobrar só é nobre no palco, quando
o artista aplaude a plateia.

Trate com igualdade os naturalmente humildes e com arrogância os
pretensos poderosos. Um pouquinho de orgulho nas fuças do poder faz
bem à alma. Ignore a presença do desafeto, mas não abaixe a cabeça.
Tem gente que não presta nem pra ser inimigo.

Nunca se desculpe do que fez ou disse em defesa da sua honra. Mesmo
que lhe custe o sossego. O moralista é neurótico, mas não é honesto.
A morte não é o terror das coisas. É a única consequência obrigatória
da vida; só questão de tempo. Não adianta adiá-la sujando o resto da
vida com a execração.

Não negue que gosta de elogios. Todo mundo gosta; quem diz que
não, está mentindo. Gente é igual a cachorro e menino, gosta de afago.

Vote em quem quiser, mas não acredite no seu candidato. Assim evita
arrependimento. Não aceite ser colunista de jornal, aos Domingos.
Sua coluna não é lida nas clínicas.

Ouça até o fi m o que alguém esteja dizendo; até uma piada, mesmo
que você já saiba do que se trata. É uma hipocrisia santa.

Evite comentar em blogs. Sempre aparece alguém mais “sabido” do
que você.
Não vá ao cinema ou ao teatro, se estiver com tosse. Nunca leia
crônica de autoajuda.

Té mais.